quinta-feira, 21 de julho de 2016

à dor de cabeça, um poema

Minha cabeça dói.
O brainstorm constante que frita meus neurônios.
a profusão de pensamentos conflitantes,
a sensibilidade sentimental superlativa,
a falta de coesão emocional.
Minha cabeça dói
e meu estômago se contorce
em virtude das incertezas desconcertantes
a que me proponho a manter.
Minha cabeça dói
em meus olhos faiscam vertiginosas imagens distorcidas,
sombras de uma realidade mal iluminada,
cores apagadas de um jardim quase sem flores.
Minha cabeça gira,
pensa e se mantém firme nas convicções
originárias do mais profundo do peito,
num pulsar atroz,
em badaladas ocas,
num Tum-tum incessante
com teu nome ecoando pelas veias
e gritando aos ouvidos quase surdos.
Ensaio para a loucura,
um coração que explode
e derrama aos montes
o que já não pode guardar.
ou,
só o amor.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Confiança


Você com certeza já viu uma criança no colo do pai ou de outro adulto qualquer, sendo jogada pra cima e novamente apanhada nos braços, ou simplesmente sentada nos ombros de alguém. Você também já percebeu que é com sorrisos e gargalhadas que elas depositam toda a sua confiança nessa brincadeira, e que o medo não faz parte desse momento.  

Agora, imagine um de nós, adultos, nessa mesma posição. Sendo atirado para cima e esperando ser apanhado por alguém. Já tentou colocar sua namorada nos ombros sem que ela ficasse louca de medo de cair? Pois é, confiança.

Adultos são diferentes. Gente grande é diferente. Nossas experiências anteriores nos moldam de forma a que fiquemos mais cautelosos em várias situações. E essas situações são mais comuns do que imaginamos, especialmente quando se trata de relacionamentos. 

E as vezes você se pergunta por que as coisas não andam ou não funcionam, ou por que ela não acredita nas coisas que você diz. Noutras você está tentando entender o que há de errado com você mesmo, se é você que não se entrega ou a pessoa que não te entende. Nossos mapas mentais nos operam, nos guiam e nos travam. O que vivemos em outros dias estão sempre contando no hoje. 

E se não temos confiança? E se não confiam em nós? E se ela já não confia em mim? 

Meu amigo, confiança é tudo. E depois que ela se vai, pra reorganizar as idéias o recobrar essa confiança, não vai ser fácil. Eu te digo por que, sei bem como é isso. Já aconteceu comigo. Eu já perdi a confiança em pessoas e pessoas já perderam a confiança em mim. Uma palavra mal dita ou fora de tom, um ato impensado, um impulso e, já era. Perde-se em um segundo o que demora uma vida pra conseguir. 

E ai é dor, é suor e são lágrimas. Somente quando o amor prevalece é que o perdão funciona. Perdoar é nobre. Mas, perdoar não faz esquecer, infelizmente. Mas quando o amor está presente, tudo se dá jeito. E, não esquecer não é ruim. Fica ali a marca, o selo de um momento que não deve ser repetido, nos dando permissão para sermos melhores, sempre melhores, evoluir e buscar o bem, sempre o bem maior, buscar um ideal e ser feliz.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Celular


Eu nunca gostei muito de falar ao telefone, somente o básico, falar o que interessa e ponto. Tenho um amigo que em conversas ao telefone não diz oi nem tchau e quando você percebe, ele já desligou. Claro, não é preciso ter essa sutileza toda, mas falar ao telefone sempre me deixou meio incomodado. 

Porém, de uns tempos pra cá tenho percebido uma necessidade meio adolescente de ficar ao telefone, ouvir sua voz do outro lado da linha, as vezes cansada, noutras divertida, e assim parece que o tempo voa, ou as vezes congela e já não têm importância as outras coisas que porventura hajam pra fazer. O banho pode esperar, a janta pode esfriar que ta tudo bem. 

Conversas bobas ao celular a qualquer hora do dia, mensagens enviadas e recebidas que alimentam meu vazio existencial. Ela me preenche, me aquece e alimenta. Meu celular até vibra diferente quando a ligação ou as mensagens vêm dela, é estranho, mas eu sinto assim. 

Eu sei que tem horas que eu desejaria não ter a disposição toda essa tecnologia, por que ela me afoba, me deixa ansioso e por vezes até preocupado. Tem horas que sinto uma necessidade saudosista de coisas que ainda não vivi, por que é um futuro com gosto de passado, como poder caminhar de mãos dadas até a feira ao lado de casa sem precisar dizer nenhuma palavra, por haver a certeza de que tudo o que importa já foi dito e as letras deram lugar aos pequenos atos do cotidiano sem nos tornar dependentes um do outro, e sim parte um do outro. 

São coisas simples, eu sei. Mas é aí eu vejo um contraponto essencial em tudo isso. Por que a vida não é toda essa virtualidade a que estamos nos acostumando a ter. O real está nas ruas, ou guardado dentro das casas onde pessoas vivem suas vidas imaginárias trancadas dentro de um quarto, em meio-retratos com sorrisos amarelos para ilustrar a falsa felicidade que gostariam de viver além do quadro da janela. 

Eu quero o todo, quero o primeiro bocejo da noite até o a primeira espreguiçada da manhã. Quero o beijo, o abraço, o almoço de domingo em família e o passeio no parque nas horas de folga. Quero a letra e a música, quero o eu e quero ela, o agora e o para sempre e quero que o telefone toque sempre que lembrar de mim.


sábado, 16 de julho de 2016

Lama

Hoje no caminho de casa pro trabalho, vim com o pensamento meio perdido, olhando a chuva que batia no pára-brisa do carro e corria fluida junto ao meio-fio. Por um minuto me vi novamente em momentos da minha infância, naquelas tardes em que esperava um pancadão de chuva pra sair saltando de poça em poça, enterrando os pés na lama sem receio e sem maiores preocupações. Era tudo tão simples, mas lembro que naquela época eu seguidamente tinha a desejo de chegar logo na vida adulta. Poderia trocar a bike por uma moto, dirigir, namorar. Teria que trabalhar também, mas me parecia tão mais interessante ser “gente grande”.

Pois bem, cheguei. Ao desembarcar do carro, já vou tentando desviar o passo da lama que está ao lado da porta. Estico a perna, bato a porta e saio correndo pra não me molhar tanto com a chuva. Gente grande é assim, se preocupa demais.

O caminho à vida adulta leva a muitas conquistas, entre elas, a minha preferida é a de poder fazer escolhas. Quer dizer, existe aqui um paradoxo, pois não tenho muita certeza se fazer escolhas é uma conquista ou uma necessidade. Creio que as duas coisas. Mas a gente não tem muito essa percepção de que, uau, agora sou grande, vou agir assim ou assado. Não, você apenas vem chegando e quando vê, já está se indo embora. O tempo corre até demais, as vezes. Como disse o meu amigo John, lá nos idos anos 70, a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos.

Da lama ao caos. As brincadeiras da infância, no meio daquelas ruas de pouco movimento e nos lotes vazios da minha vizinhança, onde éramos senhores do nosso espaço e do nosso tempo.

Do caos a lama. As mesmas ruas hoje abarrotadas de carros e pessoas, cercadas de concreto e de premissas furadas, atoladas na falsa seriedade da vida de gente grande, que nos limita os passos e nos frauda os pensamentos.

Do caos a lama.

Da lama ao caos.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Crise


Estamos sempre passando por vários períodos de mudanças e transformação. Fala-se tanto em crise que já está faltando homem pra tanto significado.

É a crise econômica que nos prende ao chão, sempre exigindo que novos cálculos para as velhas despesas sejam feitos e nos restringindo ao básico. Junto a isso, observamos um país quebrado de sul a norte, com suas instituições político administrativas falidas sendo diariamente expostas ao ridículo e colocando o povo atordoado em um picadeiro, como palhaços da vez.

Somando-se a isso, vemos a base de tudo, a educação, sendo sucateada e tratada com desdém, uma crise cultural generalizada onde a música que mais se ouve é a que menos se pensa. Dói nos ouvidos, mas ainda que gosto não se discuta, eu tenho o meu e faço bom uso dele.

Seguidamente eu entro numa crise de ansiedade, que me tira o sono, as vezes a fome, ou me deixa ainda mais glutão. Uma sensação de que as horas não passam, as coisas não bastam, confusão mental, perda de criatividade. Já achei que fosse a crise da meia idade, quase irrompendo numa crise de identidade, o dueto da bipolaridade.

Se parar pra ver, toda essa subjetividade se apresenta mais como uma crise existencial, que nos faz duvidar do que somos, de quem somos, do pra que da vida, do por que dos sonhos, do pra onde seguir.

Talvez todas essas dúvidas sejam apenas reflexos da nossa (da minha) envelhescência, tentando por em xeque nossas convicções. Talvez todas essas crises nos ajudem, de alguma maneira, a evoluir. Elas nos levam a buscar outro caminho, um novo olhar, um viés diferente para o mesmo significado.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Calculadora

Não consigo encontrar respostas na fria matemática dos números. O tiquetaquear preciso da calculadora do tempo às vezes parece alongar a contagem dos segundos, transformando minutos em horas intermináveis. Quem espera algo que está por acontecer vive a agonia da incerteza, sobrepujando a esperança como sua mais fiel aliada contra a força dos pensamentos mal vindos. 

Quantas madrugadas mal dormidas por conta dos números. O dinheiro que acaba, as contas que chegam, os dias para as férias, a métrica da música, a menstruação que atrasa. Tudo conta, tudo soma, tudo pesa. O sono não tem, a manhã não chega, e pra piorar Ela só vem no fim de semana. Que deus me ajude, que o tempo mude, que o amor prevaleça.

Quero estar certo sobre a simplicidade da vida, mas a certeza que eu tenho pra Ela nem sempre faz sentido. A calculadora ainda fraciona as memórias atribuindo valores diferentes para boas e ruins enquanto as marcas do passado aparecem como fantasmas sórdidos e insistentes.

Eu sei, a racionalidade as vezes é uma droga. Uma droga pesada e viciante. Mas o sentimentalismo também. Tem horas em que me sinto egoísta, simplista, me vejo quase hedonista e no passar de um segundo um pensamento niilista me detém. 

O cheiro dEla me chega agora num sopro de vento. Já não são mais as borboletas que gritam pra mim e sim uma luminosa flor de lótus que me faz viajar. Não, não é o ópio, é o óbvio, escancarado na minha mente. Quero ter mais tempo, voar ao seu lado e ver o dia correr mais lento. Quero a minha vida na dEla e assim, depois, quero outra vida.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Estranha


Certo dia eu conheci uma menina. Com seus longos cabelos escuros, olhos pequenos e profundos, ela vestia um lindo sorriso e espalhava graça enquanto andava lentamente pela rua da minha casa. Trajava boas roupas e que combinavam com seu estilo. Nada fora do comum, eu acho, mas algo nela me prendeu. A partir daquele dia, ela se tornou a minha estranha preferida.

Outras vezes eu a vi passar em frente ao meu escritório. Certamente ia ao mercado que ficava pertinho dali, e nessas horas parecia sempre muito seria e retraída. Mesmo sabendo que ela não me via, esses pequenos encontros fortuitos foram me cativando, e eu quis saber o que mais ela escondia atrás daquela beleza incomum. Esperava ela fazer o caminho de volta e enquanto ficava observando ela ir sumindo no fundo da rua eu ia imaginando do que ela gostava, que músicas ouvia, que nome ela teria. Na verdade o nome pouco importava, pois ela era mesmo a minha estranha preferida.

O tempo passou, muitas luas mudaram no céu, outras estações e, numa dessas noites perdidas por ai eu cruzei um par de pequenos olhos pouco familiares acompanhado de um riso leve e divertido. Era Ela. Bebia algum coquetel de destilado no canudinho e embalava o corpo ao som da minha música. Seu olhar vagava pela sala mal iluminada e acabava caindo no meu. Ela parecia finalmente haver me visto e nesse dia algo se acendeu.

A essa altura minha estranha preferida já tinha nome e é claro que eu estava criando cada vez mais afinidade com a sua estranheza. Ela era mesmo linda, e curiosa, e inteligente, as conversas fluíam, as palavras simplesmente brotavam junto com risos bobos e despretensiosos e eu finalmente percebi que ela não era estranha. Ela era diferente. Não havia nela a futilidade feminina e sim uma personalidade marcante. Ela carregava na pele e na alma a identidade forte de quem sabe o que quer. Ela me fazia bem e estar com ela era como passear no paraíso.

Hoje, depois de tanto tempo, ainda me surpreendo positivamente em perceber que mesmo sabendo quase tudo dela, de ter já vivido emocionantes histórias em sua companhia, me pego aprendendo algo novo, um detalhe que eu havia deixado passar, ou talvez seja puro capricho dela em me esconder o jogo. Na verdade, me apaixono por ela a cada novo dia. Na verdade, não importa quanto tempo passe. Ela sempre será a minha estranha preferida.