quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Desculpas

quero
pedir desculpas
pelas palavras não ditas
pelas ações não feitas
e pelas tantas vezes em que eu
deixei de fazer você sorrir
pela falta de zelo
a estupidez
o descaso
a insensatez
pela maquiagem borrada e
pela fronha molhada na noite mal dormida
a falta de fome
e a falta de fé
pelas historias mal contadas
pelos sonhos desfeitos
pelo que era e deixou de ser
que deveria ter sido e não foi
as ausências
e frustrações
por dizer o que não devia
por ouvir mais do que falar
por fazer esperar
por levar a ferro e fogo
onde caberiam
flores e canções
Alguma coisa entre Bukowski e Gabito, nem tão duro, nem tão sentimental, que conseguisse tão somente dizer o hoje, um espelho de mim, limando as arestas, lapidando carvão.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Dança o tango comigo?



Apesar de avançado Dezembro, naquela noite fazia frio em Buenos Aires.  Saímos do hotel e as luzes da cidade já iluminavam toda a avenida. Ele passou seu braço ao redor de minha cintura num abraço quente, mas ainda segurava firme minha mão como quem não me queria longe nem por um segundo. 

Olhei para ele e sorri. Era nossa primeira noite na cidade, da qual nada conhecíamos, a não ser pelas fotos dos catálogos de viagens.

Caminhamos  algumas quadras e logo chegamos a Plaza de Mayo , dando de cara com a Casa Rosada. Muitos turistas ainda posavam para fotos com o monumento ao fundo.  Nós também. Ele tentou pontificar alguma noção de história, dizendo que aquele era o marco da fundação da cidade e palco de outros grandes acontecimentos, mas naquele momento eu apenas queria sentir a alegria de estar ali, longe das coisas cotidianas e bem perto dele, ganhando toda a sua atenção.

Continuamos andando, e um pouco mais adiante um casal apresentava sensualmente um tango em plena rua, e aquela cena nos deteve de imediato. Quietos, porém eufóricos, assistimos o espetáculo até o fim. Seus olhos sorriam, fascinados. Ele estava bem, eu sabia. Quanto tempo já havíamos planejado aquela viagem, mas por um ou outro motivo não acontecia. Agora, estávamos ali.

Havia muito movimento de pessoas nas calçadas e todas pareciam desfrutar do mesmo sentimento que nós. Uma irradiante alegria e paz interior, sobretudo pelo clima de Natal.

Entramos num café e pedimos alguma coisa para comer. Havíamos viajado aquele dia inteiro, e apesar da euforia estávamos cansados. Muito cansados, na verdade. Decidimos voltar logo para o hotel e assim nos preparar para os próximos dias, que seriam lindos.

Naquela noite, deitados, continuamos a fazer os nossos planos de viagem e também da vida. A casa, filho, família. Abraçada e com a cabeça colada em seu peito, podia ouvir as batidas do seu coração, e podia jurar que elas diziam meu nome. Sim, eu estava feliz e assim eu seria, para sempre.