Certo dia eu conheci uma menina. Com seus longos cabelos escuros, olhos pequenos e profundos, ela vestia um lindo sorriso e espalhava graça enquanto andava lentamente pela rua da minha casa. Trajava boas roupas e que combinavam com seu estilo. Nada fora do comum, eu acho, mas algo nela me prendeu. A partir daquele dia, ela se tornou a minha estranha preferida.
Outras vezes eu a vi passar em frente ao meu escritório. Certamente ia ao mercado que ficava pertinho dali, e nessas horas parecia sempre muito seria e retraída. Mesmo sabendo que ela não me via, esses pequenos encontros fortuitos foram me cativando, e eu quis saber o que mais ela escondia atrás daquela beleza incomum. Esperava ela fazer o caminho de volta e enquanto ficava observando ela ir sumindo no fundo da rua eu ia imaginando do que ela gostava, que músicas ouvia, que nome ela teria. Na verdade o nome pouco importava, pois ela era mesmo a minha estranha preferida.
O tempo passou, muitas luas mudaram no céu, outras estações e, numa dessas noites perdidas por ai eu cruzei um par de pequenos olhos pouco familiares acompanhado de um riso leve e divertido. Era Ela. Bebia algum coquetel de destilado no canudinho e embalava o corpo ao som da minha música. Seu olhar vagava pela sala mal iluminada e acabava caindo no meu. Ela parecia finalmente haver me visto e nesse dia algo se acendeu.
A essa altura minha estranha preferida já tinha nome e é claro que eu estava criando cada vez mais afinidade com a sua estranheza. Ela era mesmo linda, e curiosa, e inteligente, as conversas fluíam, as palavras simplesmente brotavam junto com risos bobos e despretensiosos e eu finalmente percebi que ela não era estranha. Ela era diferente. Não havia nela a futilidade feminina e sim uma personalidade marcante. Ela carregava na pele e na alma a identidade forte de quem sabe o que quer. Ela me fazia bem e estar com ela era como passear no paraíso.
Hoje, depois de tanto tempo, ainda me surpreendo positivamente em perceber que mesmo sabendo quase tudo dela, de ter já vivido emocionantes histórias em sua companhia, me pego aprendendo algo novo, um detalhe que eu havia deixado passar, ou talvez seja puro capricho dela em me esconder o jogo. Na verdade, me apaixono por ela a cada novo dia. Na verdade, não importa quanto tempo passe. Ela sempre será a minha estranha preferida.
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