sexta-feira, 25 de maio de 2012

inverno outra vez

eu sempre gostei do inverno...
sempre me senti bem com o frio
Talvez por que assim
eu tivesse que procurar uma forma de me aquecer
roupas, cachecois, meias de lã
até a moda muda no inverno
mudamos todos.
parece até que as pessoas tentam passar 
o seu calor interior umas para as outras
com pequenas confraternizações
amigos reunidos ao redor de garrafas de vinho
comidas quentes
fogões acesos
e eu
ja disse
gosto do frio.
do inverno.
Não sei se sempre foi assim, 
mas eu, em algum momento
aprendi a gostar
desde o tempo que eu era criança
que minha mãe me punha no banho
e depois me deixava em frente ao fogão de lenha
contando alguma história
enquanto esperava meu pai e irmãos que vinham do trabalho.
Trago boas recordações de invernos passados
muitos tragos em invernos passados
Mas
o que não gosto 
e não quero
é sentir frio.
Nem no corpo 
nem na alma
preciso estar quente por dentro
e
por fora da-se um jeito
um trago, um fogo, uma prosa
e logo o inverno passa
tudo passa
mas a gente,
fica

solidão X orgulho


invariavelmente atrasado, pra tudo na vida
e a solidão, maltrapilha
estremece pelos cantos
enquanto o orgulho, garboso
escurece os olhos,
tira o brilho das cores
e fomenta essa tristeza
que há muito, me persegue.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

e dói


Insatisfação que mata
desejo de não sei quê
ânsia em ser
em ter
em estar
eu queria não querer
não depender
poder não sentir
essa mazela
esse flagelo da alma
essa fenda que corrói
e dói
e dói
e dói

sexta-feira, 18 de maio de 2012

e dai?


e dai, se ninguém lê o que eu escrevo
se não ouvem o que eu canto
se não entendem o que eu digo
ninguém também sabe o que eu sinto!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

surreal


Busco algo que me falta.

Enquanto isso, preencho as lacunas com overdoses maciças de música, muita música. 
E, quantas vezes me pego ouvindo uma música pela milésima vez, e ela me toca de maneira diferente, me emociona, me apaixona pela vida, me faz querer chorar, me traz saudade de um tempo que passou ou de algo que ainda nem vivi.
O que me faz pensar também que, se no passar de uma vida, essa busca der em nada, ao menos a trilha sonora foi feita.
Agora, pensar que no fim, depois de ter cruzado a linha final, achado o fim da picada, a luz no fim do túnel, descobrir que lá não exite música, que não terei mais os tantos gigabytes de mp3, os muitos CD's, nem o "taterca Linear" do Sr. Clarimont pra ouvir os discos de vinil, vai ser triste, de mais. 
Pense, ser condenado a passar a eternidade sem música, só na harpa, e anjinho voando de uma nuvem pra outra. Não não não, tem de existir o rock and roll também do lado de lá. Quem sabe um céu só pr'os rockeiro. 
Mas, sei lá, se for assim, talvez seja chato demais. 
O emocionante seria pensar num paralelo surreal, de repente cruzar com o John Lennon fazendo um dueto voz e violão com o Jim Morrison, e o Curt Cobain esperando pra dar uma palhinha.
E ai, esse céu ta bom pra você?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

soneto


oito anos,
e naquele dia então, ela sorriu
mas acho, lembrando agora
que só os olhos ainda eram os mesmos
há muito não os via brilhar
e chamuscaram os meus.
e me tomou pra si
sem chance,
sem chave
sem palavras
nem precisava
e assim,
moldados pelo tempo
marcados pelo destino
num laço
um aperto sem nó
sem dó
e sem remédio
me arrancou do tédio de dias sem fim
e o mundo,até então quieto
agora cirandava ao nosso redor
multicolorido
reabastecido do combustivel que alimenta a roda da história
e em gloriosos momentos felizes
fomos
um no outro
um do outro
dois em um.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Öteb, o gnomo azul da Sibéria.


Sai de casa correndo. Sim, eu estava atrasado.
Ao por o pé na rua, vi que aquela não era a rua da minha casa.
Era tudo estranho, no lugar do asfalto tinham paralelepípedos muito bem assentados e ao longo da rua já não existiam mais as mesmas casas de sempre, nem a habitual vizinhança.

Meio contrariado continuei andando, tentando encontrar meu costumeiro caminho até o trabalho, mas estava um tanto difícil, eu não conseguia saber para qual lado seguir.

Fui percebendo que, margeando todo o caminho, tinha uma espessa floresta, de um verde intenso e pouco familiar. Me distrai olhando para aquelas árvores, todas diferentes das que eu tivesse visto até o momento. As flores também eram variadas em tamanho e formato e, as cores azuis, roxas, em tons de laranja davam um ar bastante fotográfico àquele meu novo cenário.

Àquela altura eu já não lembrava mais do trabalho, de casa, dos meus compromissos com o marcador do relógio digital do meu celular. Estava tão absorvido com a estranheza da situação que perdi o sentido do tempo.

Comecei a ouvir um gralhar preocupante, parecia um riso que as vezes puxava uma gargalhada. Confesso que meus pelos estavam arrepiados e, tenha certeza, não era por causa do ar fresco da mata. Curioso, procurei a origem daqueles ruídos, entrando de leve nas folhagens, e tirando de lado alguns galhos e folhas, tentando encontrar alguma coisa, alguma explicação. Vi um pequeno riacho, parecia até ter um barulho de cascata mais ao longe. Passei por ele sem dificuldade, num pulo já estava do outro lado sem ter molhado os pés.

Interessante que os guizos e gargalhadas pareciam estar sempre ao meu redor, por mais que eu continuasse em movimento. Não foi sem surpresa que me deparei com uma imensa árvore, secular eu diria, com grandes galhos que pareciam querer abraçar toda aquela área da floresta. Também não foi com menor descrença que vi, sentado numa das grandes raízes daquela grande árvore, uma criatura toda azulada, com orelhas pontudas e um chapéu parecido com os que usam essas bandas de marchinhas alemãs. Se parecia bastante com um desenho que alguém me mostrou em certa ocasião, dizendo ser presente de um tatuador.

Eu parei, meu coração quase. Mas eu ainda podia sentir nos ouvidos o pulsar do sangue correndo, sinal de que ainda estava vivo.

Num salto, ele desceu do seu banco improvisado e parou bem próximo a mim. Eu calado. Ele me olhando, parecia curioso. Deu algumas voltas ao meu redor, como se estivesse me estudando, inclinando a cabeça de lado as vezes, enquanto fazia um estranho "uhum, uhum".
Finalmente falou:

- Você, o que faz aqui? - antes que eu quisesse responder, ele continuou - eu sei, não precisa me dizer. Eu sou um Gnomo Azul da Sibéria, me chato Öteb, o que tudo sabe, e tenho esperado por você aqui, já há algum tempo. Tenho visto, observado, sentido com uma ponta de preocupação tudo o que vem acontecendo durante toda a sua vida, e especialmente os últimos anos. Você deve estar se perguntando como ou no mínimo o porquê. Por que eu, o grande Öteb, o que tudo sabe, me daria ao trabalho de conhecer e preocupar com tão insignificante criatura como vós, mas eis que assim me foi determinado, há muito tempo atrás. Nosso encontro será breve, portanto peço que preste atenção. Abaixou, pegou um pequeno graveto, o qual ficou segurando entre os dedos indicadores e polegar de ambas as mãos. A expressão do rosto ficou diferente de repente, mostrando um ar quase paternal e, mudando para um tom mais solene recomeçou a falar.

- A vida é feita de escolhas. Umas mais determinantes que outras, mas assim é. Desde quando ainda era jovem, as pequenas escolhas que fizestes, como assistir ou não àquelas aula de matemática, ou cruzar ou não o rio chopim a nado com os amigos, tudo isso lhe trouxe um novo leque de opções. Cada vez que você opta por isso em vez daquilo, uma nova realidade de manifesta. Nem tudo é definitivo, mas tudo é determinante. Tenho percebido que o passar dos anos lhe trouxe uma incomoda comodidade, como se apenas o mundo precisasse correr, e você não. Veja, o que é importante para sua vida ainda depende de você! Você faz as escolhas. Tem de fazer! Pondere, pense, mas aja. Pensamentos e palavras fazem uma grande diferença, podem representar o principio, mas de nada valem se você não der o passo seguinte, não tiver atitude e responsabilidade. As oportunidades aparecem, algumas vezes até se repetem, mas não espere demais. Agarre-as, tome-as para si, com sabedoria. O sentido da vida é e será sempre o mesmo. O amor. Viva com simplicidade, com alegria. A felicidade sempre estará nas pequenas coisas. Frases de efeito não vão mudar a sua vida. Atitudes sim.

E, abrindo um vasto sorriso naquela cara estranha, entregou para mim aquele pequeno graveto que havia segurado entre os dedos até então, e com um leve aceno de mão, fez-se brilhar tão intensamente que quase me cegou e, tudo ao meu redor era agora tão claro que precisei proteger meus olhos com as costas da mão.

Me vi em minha cama. O sol já ia alto e entrava pela fresta da cortina direto na minha cara. Minha mão esquerda estava sobre os olhos e na esquerda um graveto seco.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

em noventa e poucos


A cidade estava movimentada com uma nova casa, a Bielle Clube, que era totalmente diferente dos outros estabelecimentos noturnos de então. Uma das primeiras festas temáticas promovidas pela Bielle foi a Festa a Fantasia, e mexeu com a imaginação da moçada, que usou de muita criatividade e bom humor para tornar essa noite verdadeiramente memorável. Pra mim ao menos, foi memorável.

Novamente na casa do Anderson Marcon, onde toda uma galera se reunia numa espécie de concentração. Havia ali facilmente umas 30 pessoas, entre os nossos amigos de sempre e os amigos do Coelho, irmão do Andy. Não vou saber agora dizer quem e qual era a indumentária de cada um, mas lembro que tinha uma noiva e seus dois maridos (03 homens), que por sinal ganharam o primeiro prêmio no concurso de fantasias, pijamas, fadinhas, magos, motoqueiros e outros tantos tipos.

Bebíamos vodka misturada com qualquer coisa e, evidentemente, muita vodka.

Eis que chegamos à festa, lugar lotado, quente e bastante divertido. Eu confesso que nessa época não tinha muita seletividade. Participava de qualquer tipo de festa, mesmo que fosse sertanejo, pagode, musica eletrônica. O importante era estar no meio. A noite corria bem, muita gente conhecida e todos, sem exceção, deviam estar muito bêbados. Eu estava disfarçado de Gaúcho de Pelotas. Explico: Usava um poncho e, por baixo um vestidinho preto de alcinhas. Uma graça. Fiquei com o terceiro prêmio, nesta noite.

Em dado momento, fui também premiado com a companhia de uma guria, que mal conseguia manter-se em pé. Eu não estava muito interessado nela, pra falar a verdade. Tinha uma outra pessoa que me enchia os olhos ali, até já tinha trocado uma idéia com ela, mas o quase ex-namorado ainda estava rondando, e isso não me dava nenhuma vantagem. Mas, convidei a guria para ir pro carro, afinal, ela ficaria muito melhor sentada no banco do que se segurando em mim, e também porque a festa já estava se encaminhando pro lado do fim.

Chegamos ao carro com muito custo. Se eu digo que ela estava mal, não é exagero. Era quase um coma alcoólico. Quando consigo finalmente acomodar a dita cuja no acento do carro, chega meu querido amigo Marcio Rocha, esbaforido e trazendo a boa nova: Ela, sim ela, aquela do quase ex-namorado, da noite vendo as luzes da cidade nos “eucaliptos” queria falar comigo. Não tive dúvidas. Eu e o Rochinha pegamos a guria pelos braços e pernas e a deixamos sentada na calçada. Eu disse pra ela: já volto, e virei em direção à boate ignorando os pedidos dela pra que eu a levasse pra casa. Eu sei, não foi bonito, mas o que eu podia fazer? Eu tinha alguém me esperando lá dentro.

E foi assim. Entrei meio que correndo no salão, mas é nessa hora que a câmera fica lenta, que a música some e você fica com cara de bobo. Lá estava ela. Vestido longo, amarelinho, e uma varinha de condão nas mãos, com estrelinha na ponta e tudo. Conversamos rapidamente, ela falou algo sobre o quase ex-namorado ter lhe dito coisas horríveis, que ele era um idiota e que estava triste e, aconteceu de novo.

Saímos dali e já dentro do carro ela me pediu, eu acho, que a levasse novamente para ver as estrelas e as luzes da cidade lá “nos eucaliptos”. Ficamos lá um bom tempo, esperando o dia nascer, mas ali o sol nascia às nossas costas, então não foi assim um grande espetáculo, mas o momento me parecia maravilhoso.

Já era dia, hora de ir para casa. Éramos adolescentes, tínhamos pais que esperavam por nós. Em frente à casa dela, eu a puxei para o meu colo, e não conseguindo conter aquela convulsão de sentimentos, uma grande erupção parecia querer brotar do meu peito em forma de palavras. Disse para ela: Posso te falar uma coisa, mesmo que isso não seja a verdade, e que não seja exatamente isso que esteja sentindo? Por que eu não sei o que to sentindo, afinal eu mal te conheço, mas eu quero dizer, sinto como se tivesse que dizer. Ela, meio sem graça, mas evidentemente feliz, consentiu.

Ajeitei-a melhor no meu colo, olhei em seus olhos e segurei suas mãos, respirei fundo e disse, todo sem jeito: Eu amo você!

Na hora ela riu divertida com a situação, mas não deu a importância devida àquilo que eu tava fazendo.

Coisas da juventude, eu sei. Mas naquele dia nem mesmo eu sabia que aquilo seria apenas um pequeno prefácio, de um livro com ainda muitos capítulos a serem escritos.