Hoje no caminho de casa pro trabalho, vim com o pensamento meio perdido, olhando a chuva que batia no pára-brisa do carro e corria fluida junto ao meio-fio. Por um minuto me vi novamente em momentos da minha infância, naquelas tardes em que esperava um pancadão de chuva pra sair saltando de poça em poça, enterrando os pés na lama sem receio e sem maiores preocupações. Era tudo tão simples, mas lembro que naquela época eu seguidamente tinha a desejo de chegar logo na vida adulta. Poderia trocar a bike por uma moto, dirigir, namorar. Teria que trabalhar também, mas me parecia tão mais interessante ser “gente grande”.
Pois bem, cheguei. Ao desembarcar do carro, já vou tentando desviar o passo da lama que está ao lado da porta. Estico a perna, bato a porta e saio correndo pra não me molhar tanto com a chuva. Gente grande é assim, se preocupa demais.
O caminho à vida adulta leva a muitas conquistas, entre elas, a minha preferida é a de poder fazer escolhas. Quer dizer, existe aqui um paradoxo, pois não tenho muita certeza se fazer escolhas é uma conquista ou uma necessidade. Creio que as duas coisas. Mas a gente não tem muito essa percepção de que, uau, agora sou grande, vou agir assim ou assado. Não, você apenas vem chegando e quando vê, já está se indo embora. O tempo corre até demais, as vezes. Como disse o meu amigo John, lá nos idos anos 70, a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos.
Da lama ao caos. As brincadeiras da infância, no meio daquelas ruas de pouco movimento e nos lotes vazios da minha vizinhança, onde éramos senhores do nosso espaço e do nosso tempo.
Do caos a lama. As mesmas ruas hoje abarrotadas de carros e pessoas, cercadas de concreto e de premissas furadas, atoladas na falsa seriedade da vida de gente grande, que nos limita os passos e nos frauda os pensamentos.
Do caos a lama.
Da lama ao caos.
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