segunda-feira, 18 de julho de 2016

Celular


Eu nunca gostei muito de falar ao telefone, somente o básico, falar o que interessa e ponto. Tenho um amigo que em conversas ao telefone não diz oi nem tchau e quando você percebe, ele já desligou. Claro, não é preciso ter essa sutileza toda, mas falar ao telefone sempre me deixou meio incomodado. 

Porém, de uns tempos pra cá tenho percebido uma necessidade meio adolescente de ficar ao telefone, ouvir sua voz do outro lado da linha, as vezes cansada, noutras divertida, e assim parece que o tempo voa, ou as vezes congela e já não têm importância as outras coisas que porventura hajam pra fazer. O banho pode esperar, a janta pode esfriar que ta tudo bem. 

Conversas bobas ao celular a qualquer hora do dia, mensagens enviadas e recebidas que alimentam meu vazio existencial. Ela me preenche, me aquece e alimenta. Meu celular até vibra diferente quando a ligação ou as mensagens vêm dela, é estranho, mas eu sinto assim. 

Eu sei que tem horas que eu desejaria não ter a disposição toda essa tecnologia, por que ela me afoba, me deixa ansioso e por vezes até preocupado. Tem horas que sinto uma necessidade saudosista de coisas que ainda não vivi, por que é um futuro com gosto de passado, como poder caminhar de mãos dadas até a feira ao lado de casa sem precisar dizer nenhuma palavra, por haver a certeza de que tudo o que importa já foi dito e as letras deram lugar aos pequenos atos do cotidiano sem nos tornar dependentes um do outro, e sim parte um do outro. 

São coisas simples, eu sei. Mas é aí eu vejo um contraponto essencial em tudo isso. Por que a vida não é toda essa virtualidade a que estamos nos acostumando a ter. O real está nas ruas, ou guardado dentro das casas onde pessoas vivem suas vidas imaginárias trancadas dentro de um quarto, em meio-retratos com sorrisos amarelos para ilustrar a falsa felicidade que gostariam de viver além do quadro da janela. 

Eu quero o todo, quero o primeiro bocejo da noite até o a primeira espreguiçada da manhã. Quero o beijo, o abraço, o almoço de domingo em família e o passeio no parque nas horas de folga. Quero a letra e a música, quero o eu e quero ela, o agora e o para sempre e quero que o telefone toque sempre que lembrar de mim.


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