segunda-feira, 30 de abril de 2012

preto e branco

palavras próximas 
gestos distantes

no fim
só me sobraram os riscos
cacos de um vinil há muito furado
melodias velhas
traços mal feitos
laços distantes
uma esperança surda
uma consciência cega
uma coragem muda
lembranças em branco e preto

sexta-feira, 27 de abril de 2012

blues da autopiedade

quanto mais eu tento entender
mais eu me perco nesse papo cansado
quando mais feliz eu quero ser
vem a vida tirando o seu sarro
tudo era
perfeito
eu sei
por que mudou tanto assim?
por que o mundo parece cansado de mim?
me fazendo não rir
só chorar
mas talvez
e somente talvez
eu mereça partir
encontrar outro lugar
e deixar ela ser
feliz
meus dias incertos 
minhas noites de insônia
procurando palavras ou explicações
buscando mais e mais na sorte
um rumo, o norte pras minhas frustrações
tudo era perfeito
eu sei
por que mudou tanto assim?
por que o mundo parece cansado de mim?
me fazendo não rir
só chorar

http://soundcloud.com/beto-de-bortoli/blues-da-autopiedade

quinta-feira, 26 de abril de 2012

fim de música


os sonhos ainda são os mesmos
e ainda há tempo para eles
o mesmo roquenrou
e sabemos
a banda toca pra todos
mas poucos sãos os que querem ouvir
fazem pose, batem o pé
mas são os olhos que perseguem
surdos para o tempo
cegos para o ritmo
poeticamente mudos
e eu não mudo
vejo
mas não compreendo
tento
mas não surpreendo
até que a música chegue ao fim
e a melodia acabe
e apenas soe como lembrança
para mim
e também para você

terça-feira, 24 de abril de 2012

assim assado


assim, assado
o preto no branco
usando colírio ou óculos escuros
pra quem espera o fim do mundo
o amanhã é uma piada
tire a sorte grande
pra não ter o azar de ser o escolhido
na hora errada como sendo o alguém certo
mato ou morro
é pagar pra ver
por que se ficar o bicho pega
se correr, o bicho cansa
e a dança
a ciranda das noites de muitas estrelas
hora ou outra chega ao fim
por que o sol nasce
e o teu brilho é o primeiro que cessa
estampando na cara as profundas marcas que a alma guardou
bobagens, bobeiras, balelas
a melodia surda que ninguém mais ouve
o trato, o trote e o tropeço
mas deixa
talvez só mais um porre
um poste
festim
o fim
quem sabe
quem vai saber?
tantos
e tão poucos que valem a pena,
uma dezena
um pouco mais
e o riso, cansado mas verdadeiro
nascendo pertinho da orelha
por uma centena de bons motivos
espera a boa hora
e certamente terá
vez e lugar

sexta-feira, 20 de abril de 2012

pura solidão

http://soundcloud.com/beto-de-bortoli/pura-solidao

as vezes eu me sinto assim perdido
e tenho medo do que eu sinto
seja a mais pura solidão
as vezes quando penso no futuro
me deparo com meus planos
vindo em minha contra-mão
mas ao seu lado eu fico assim tão a vontade
já não consigo disfarçar
nem convencer
e se eu perco o medo
eu me vejo preso
em flagrante desespero
se eu me desencanto
e já não te vejo
te sinto bem menos
e chego a ter medo
passam dias e noites vazias
e eu meio confuso
e sempre sem rumo
mas ao seu lado fico assim tão a vontade
ja não consigo disfarçar nem convencer
e se eu perco o medo
eu me vejo preso
em flagrante desespero

quinta-feira, 19 de abril de 2012

eu mesmo


eu quero apenas ser
eu
mesmo!
eu mesmo
a esmo
sem pra quem
nem pra que
no imenso e
tão insignificante
espaço-tempo
caber em mim
sem sobras
nem apertos
mas
sem dúvida
eu não
sou
assim

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Quem?


Descontentamento.
Não dá mais pra ser assim.
Está tudo ai, passando, quase que correndo e as vezes, escorrendo pelos dedos.
Ei, você! Venha, me abrace, me pegue, me agarre, não deixe que eu fuja, que eu me acovarde.
Eu não sei, mas pode ser você quem vai mudar tudo, quem vai tirar esse peso de mim, remover essa casca, essa carapaça, essa mascara que, eu sei, te assusta.
Me pegue pela mão, me leve pra passear, caminhar até o por-do-sol, ver o cair das estrelas na ausência da lua.
Ei, você! eu sei, não sou bonito, e minhas posses não vão além daquilo que carrego nos bolsos. Não falo muito é verdade, me mantenho sempre um pouco afastado e, O que pode parecer antipatia eu descreveria como pura timidez.
Sei batucar um violão e poderia, algumas vezes, distrair suas noites, acalantar seu sono, fazer brotar um sorriso, ou até mesmo um lágrima.
Tenho uma pá de defeitos, de vícios, e estes as vezes até se sobressaem sobre as minhas virtudes, algo que tenho que melhorar, e muito.
Mas eu sei, você pode me ajudar!
Ei, você! Ei...
Beto! é, Você mesmo, Beto.
Você pode me ajudar?

terça-feira, 17 de abril de 2012

Alguém salve a musica popular brasileira


Desapego cultural.
Que sejamos vítimas de uma cultura pobre e viciosa até se pode entender, mas escolher livremente pelo ruim quando se pode ter coisa melhor, pra mim, já é burrice.
De tempo em tempo, somos abalroados por um novo hit, um novo ritmo, surgido das “profundezas de não sei onde”, que nos inferniza com refrões de duas palavras em repetições intermináveis e, com uma nota apenas. O fato de conter apenas uma nota não é problema. Até mesmo o grande João Gilberto compôs seu “Samba de uma nota só”, mas aí a conversa é outra. O que entristece é que, enquanto se enfatiza essa selvageria feita com nome de música, como funk’s cariocas em geral e outras coisas sanfonadas, muita coisa boa fica para trás, a margem da mídia e do conhecimento do público.
É fato que gosto não se discute mas, felizmente, cada um tem o seu. Também é fato que todos merecem um lugar ao sol, porém, ao meu ver a parada musical está um tanto banalizada. Afinal, o que é música, senão a poesia em movimento, acompanhada da melodia que faz a trilha sonora para que as palavras ganhem a emoção devida.
Tem muita gente boa esperando a vez para entrar no ouvido do povo. Artistas que certamente tem mais a oferecer que as balelas que nos empurram goela a baixo.
Não quero aqui, impor o meu gosto musical, mesmo porque não seria fácil defini-lo. Gosto da boa musica, que traga consigo alguma mensagem positiva, tenha uma melodia que desperte o sentimento pra um momento determinado, determinante.
Vamos pois, valorizar o que existe de bom. A cultura é algo que desenvolvemos, primeiramente em nós mesmos, e em se tratando de música ainda tem muita coisa por vir. Basta estar atendo.
 E se quiserem de repente, lhe empurrar para algum novo modismo, ou uma dessas músicas bregas e sem nexo como tantas por aí, não se cale. ABRA A BOCA, E FAÇA UM GRITEDO.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

mosaico


Hoje eu acordei com uma vontade quase incontrolável de te dizer bom dia. Simples assim.
Sai cedo, andei pelas ruas e parecia que a qualquer momento ia dar de cara com você. Quem sabe naquela esquina da xingu com a brasil, enquanto esperava o sinal abrir para mim você apenas surgisse de repente. sei lá.
É engraçado perceber que as vezes me pego olhando para as pessoas na rua e, inadvertidamente, num susto, me vejo montando um quebra-cabeças, um mosaico surreal sem sentido, vendo como aquela tinha o seu jeito de andar, a outra as suas pernas, pouco depois vejo os seus olhos e o seu sorriso e mais adiante encontro um nariz igualzinho ao seu. Assim vou distraindo a sua ausência, mascarando a saudade, entretendo os pensamentos e instigando a imaginação.
No momento em que as palavras já não desempenham o sentido que deveriam e, quanto mais se diz parece que menos se entende, mais se complica, eu gostaria de poder ficar calado, mas tem um grito preso na minha garganta, uma explosão de verbos e predicados, todos endereçados a você.
Então, só pra matar a minha vontade:
- Bom dia!

noites de charme


Era uma noite fria. As noites frias em Pato Branco sempre foram cheias de charme. Fosse pelas roupas de inverno, ou pela fumacinha que saia da boca, ou quem sabe pelas jarras de vinho no Frangos & Fritas, não sei. O que importa é que tudo me parecia bonito, novo e invariavelmente alegre. Era um tempo feliz.

Normalmente as noites começavam na casa de um amigo. Nesta época, quase sempre eu passava na casa do Anderson Marcon, que já tinha feito os contatos necessários, sabia de todas as festinhas que estavam acontecendo na cidade e possivelmente já tinha dado um jeito pra gente ser convidado em alguma delas.

Eu e o Andy estávamos formando uma nova banda, experimentando com um músico aqui, outro ali. O Juliano Ilkiu (Juca) foi o primeiro baterista, que depois deu lugar pro Dini, O Marcio Rocha era o baixista que foi substituído pelo Luiz Fernando Brod. Éramos os Miguelitos. Chegamos a gravar uma música (que nem me lembro mais) num CD de bandas locais, juntamente com Jardim Elétrico, Bicho de pé, Psicola Blues, Phábrica e outras que existiam na época.

Mas, como eu dizia, era uma noite fria. As pessoas na rua usavam gorros e cachecóis. Estava acontecendo uma dessas festas juninas de colégio, com quentão, pinhão, pipoca e vinho. Fomos dar uma olhada.

O Andy tinha me falado de uma menina, que eu já conhecia de vista. Ela me lembrava uma então famosa atriz de novela. Fomos apresentados, ou nem fomos, não lembro bem. Talvez tenha sido apenas troca de olhares.

O Frango’s nessa época era um lugar não muito grande, onde o garçom te chamava pelo nome e, especialmente nos dias frios, bastante agradável. Tinha sempre no ar um clima de confraternização, onde se conhecia quase todo mundo e as bebidas iam e vinham passando de mão e mão.

Estávamos então ali, e naquele vai e vem de um copo de vinho nossos dedos se tocaram, e nossos olhos se cruzaram e, ali, exatamente ali, naquele momento, algo aconteceu. Mas acho que foi só pra mim, ela nem deve ter percebido nada, a noite continuou normalmente, trocamos algumas palavras, telefones e ficaria por isso mesmo se eu num impulso não a tivesse beijado.

No fim da noite pegamos a C-10 que estava estrategicamente estacionada na rua Itabira e estávamos indo curtir a vista da cidade lá “nos eucaliptos” quando fomos surpreendidos por um fusca azul calcinha que vinha louco em nossa perseguição. Era o quase ex-namorado dela. Tive de chamar todos os seis canecos da velha camionete vermelha para emplacar uma fuga enquanto ela xingava o animal, sentada ao meu lado. Quando chegamos “nos eucaliptos”, ele fez meia volta, e foi embora. Melhor assim.

Noite divertida.

Ficamos abraçados olhando a cidade de longe, adormecida. O vento frio batendo nos cabelos e o coração quentinho batendo no peito.

entenda

não me faça querer o óbvio
nem me deixe desejar o possível
tampouco me mostre o imaginável
me permita a liberdade de desejar aquilo que ainda sequer existe
e quem sabe isso me faça ver a realidade.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vícios e virtudes

Ontem eu li no jornal 
entre fotos e retratos 
a história de um homem 
que tentou andar o mundo inteiro 
para alcançar a Glória
Porém 
quanto mais se encantava 
com as pequenas maravilhas da vida 
a imagem incontestável de homem bom estava sendo esquecida.

Queria tanto ser perfeito 
mas suas virtudes transformaram-se em vícios 
e as pessoas já não viam nele o bem
Depois de um dia lisérgico 
ele acordou tão cansado 
e sentiu que ainda era tempo pra mudar 
e voltar a ser amado.
Queria tanto ser perfeito 
mas suas virtudes transformaram-se em vícios 
e as pessoas já não viam nele o bem.
E ele só queria ser melhor e melhor e melhor.

http://www.myspace.com/madonabege

Troca

troco tua ausência por horas a fio na beira d'água
a janela sempre fechada do meu quarto
por longas conversas em frente ao portão
o lençol frio por enroscadas de pés quentes
e os tantos litros de gasolina queimados a toa
por caminhadas com as mãos dadas
na hora do pôr-do-sol.
troco a tua TV pelo meu violão
e o canto do sabiá madrugador pelo meu, talvez, menos chato.
troco meu choro
pelo cachorro que sempre me faz rir
e as tardes vazias de domingo
pela tua companhia, até o fim.
e agora, quem sabe
só não troco minha vida pela tua
que seria injusto oferecer
tamanha solidão.

1995

divagar
somente vagar
sem cometer erros
não cair em desespero
contaminar o mundo
num sopro profundo
sentir você me tocar
num leve sussurrar
e em você me prender
não, não pare agora e nem tampouco vá embora
e não me largue aqui
sozinho, chorando
pense me mim como pensa na vida
sem saber se é real
sendo assim tão brutal
perco as horas no escuro do mundo
e me perco também de você
sempre olhando em frete
quase impotente
contra o brilho dos teus olhos
que sombreiam o meu caminho
me jogam flores e espinhos
só pra me sarar
e não me jogue fora
com tudo o que você acha que não te serve mais
mas também não me deixe guardado
num canto do seu coração cheio de pó
você tem o doce,
o poder do toque
e o margo do olhar
ao falar tudo o que quer
estou parando
desistindo
mas continuo existido
não pra você
mas por mim.

las brujas

Essa noite eu me vi meio sem sono. Estava frio e eu fiquei enrolado nos cobertores e abraçado no travesseiro. Comecei a lembrar que quando eu era pequeno, invariavelmente eu acordava pela manhã para ia à escola e os meus cabelos estavam sempre muito arrepiados, nem molhando eu conseguia dar jeito naquilo. Minha mãe me disse uma vez que eram as bruxas que vinham durante a noite e ficavam revirando neles, e por isso eles ficavam assim. Eis que, depois d'ela me dizer isso, eu chegava a sentir os cabelos mexendo durante a noite, e me encolhia de medo.
Interessante que, lembrei disso durante esta noite por que estava acontecendo de novo. Tive a nítida sensação de ter alguém ali, erguendo os fios do meu cabelo, moldando, para que hoje de manhã ele acordasse cheio de "aspas", arrepiado, revirado. E, podem acreditar, estavam mesmo.



Yo no creo en brujas pero que las hay las hay!

eu e o rio

eu vejo os dois lados do rio...
quero atravessar
e não tenho a ponte
e tenho medo de ir de bote
as vezes até tento criar asas
mas o peso não me deixa alçar vôo.