segunda-feira, 16 de abril de 2012

noites de charme


Era uma noite fria. As noites frias em Pato Branco sempre foram cheias de charme. Fosse pelas roupas de inverno, ou pela fumacinha que saia da boca, ou quem sabe pelas jarras de vinho no Frangos & Fritas, não sei. O que importa é que tudo me parecia bonito, novo e invariavelmente alegre. Era um tempo feliz.

Normalmente as noites começavam na casa de um amigo. Nesta época, quase sempre eu passava na casa do Anderson Marcon, que já tinha feito os contatos necessários, sabia de todas as festinhas que estavam acontecendo na cidade e possivelmente já tinha dado um jeito pra gente ser convidado em alguma delas.

Eu e o Andy estávamos formando uma nova banda, experimentando com um músico aqui, outro ali. O Juliano Ilkiu (Juca) foi o primeiro baterista, que depois deu lugar pro Dini, O Marcio Rocha era o baixista que foi substituído pelo Luiz Fernando Brod. Éramos os Miguelitos. Chegamos a gravar uma música (que nem me lembro mais) num CD de bandas locais, juntamente com Jardim Elétrico, Bicho de pé, Psicola Blues, Phábrica e outras que existiam na época.

Mas, como eu dizia, era uma noite fria. As pessoas na rua usavam gorros e cachecóis. Estava acontecendo uma dessas festas juninas de colégio, com quentão, pinhão, pipoca e vinho. Fomos dar uma olhada.

O Andy tinha me falado de uma menina, que eu já conhecia de vista. Ela me lembrava uma então famosa atriz de novela. Fomos apresentados, ou nem fomos, não lembro bem. Talvez tenha sido apenas troca de olhares.

O Frango’s nessa época era um lugar não muito grande, onde o garçom te chamava pelo nome e, especialmente nos dias frios, bastante agradável. Tinha sempre no ar um clima de confraternização, onde se conhecia quase todo mundo e as bebidas iam e vinham passando de mão e mão.

Estávamos então ali, e naquele vai e vem de um copo de vinho nossos dedos se tocaram, e nossos olhos se cruzaram e, ali, exatamente ali, naquele momento, algo aconteceu. Mas acho que foi só pra mim, ela nem deve ter percebido nada, a noite continuou normalmente, trocamos algumas palavras, telefones e ficaria por isso mesmo se eu num impulso não a tivesse beijado.

No fim da noite pegamos a C-10 que estava estrategicamente estacionada na rua Itabira e estávamos indo curtir a vista da cidade lá “nos eucaliptos” quando fomos surpreendidos por um fusca azul calcinha que vinha louco em nossa perseguição. Era o quase ex-namorado dela. Tive de chamar todos os seis canecos da velha camionete vermelha para emplacar uma fuga enquanto ela xingava o animal, sentada ao meu lado. Quando chegamos “nos eucaliptos”, ele fez meia volta, e foi embora. Melhor assim.

Noite divertida.

Ficamos abraçados olhando a cidade de longe, adormecida. O vento frio batendo nos cabelos e o coração quentinho batendo no peito.

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