quarta-feira, 2 de maio de 2012

em noventa e poucos


A cidade estava movimentada com uma nova casa, a Bielle Clube, que era totalmente diferente dos outros estabelecimentos noturnos de então. Uma das primeiras festas temáticas promovidas pela Bielle foi a Festa a Fantasia, e mexeu com a imaginação da moçada, que usou de muita criatividade e bom humor para tornar essa noite verdadeiramente memorável. Pra mim ao menos, foi memorável.

Novamente na casa do Anderson Marcon, onde toda uma galera se reunia numa espécie de concentração. Havia ali facilmente umas 30 pessoas, entre os nossos amigos de sempre e os amigos do Coelho, irmão do Andy. Não vou saber agora dizer quem e qual era a indumentária de cada um, mas lembro que tinha uma noiva e seus dois maridos (03 homens), que por sinal ganharam o primeiro prêmio no concurso de fantasias, pijamas, fadinhas, magos, motoqueiros e outros tantos tipos.

Bebíamos vodka misturada com qualquer coisa e, evidentemente, muita vodka.

Eis que chegamos à festa, lugar lotado, quente e bastante divertido. Eu confesso que nessa época não tinha muita seletividade. Participava de qualquer tipo de festa, mesmo que fosse sertanejo, pagode, musica eletrônica. O importante era estar no meio. A noite corria bem, muita gente conhecida e todos, sem exceção, deviam estar muito bêbados. Eu estava disfarçado de Gaúcho de Pelotas. Explico: Usava um poncho e, por baixo um vestidinho preto de alcinhas. Uma graça. Fiquei com o terceiro prêmio, nesta noite.

Em dado momento, fui também premiado com a companhia de uma guria, que mal conseguia manter-se em pé. Eu não estava muito interessado nela, pra falar a verdade. Tinha uma outra pessoa que me enchia os olhos ali, até já tinha trocado uma idéia com ela, mas o quase ex-namorado ainda estava rondando, e isso não me dava nenhuma vantagem. Mas, convidei a guria para ir pro carro, afinal, ela ficaria muito melhor sentada no banco do que se segurando em mim, e também porque a festa já estava se encaminhando pro lado do fim.

Chegamos ao carro com muito custo. Se eu digo que ela estava mal, não é exagero. Era quase um coma alcoólico. Quando consigo finalmente acomodar a dita cuja no acento do carro, chega meu querido amigo Marcio Rocha, esbaforido e trazendo a boa nova: Ela, sim ela, aquela do quase ex-namorado, da noite vendo as luzes da cidade nos “eucaliptos” queria falar comigo. Não tive dúvidas. Eu e o Rochinha pegamos a guria pelos braços e pernas e a deixamos sentada na calçada. Eu disse pra ela: já volto, e virei em direção à boate ignorando os pedidos dela pra que eu a levasse pra casa. Eu sei, não foi bonito, mas o que eu podia fazer? Eu tinha alguém me esperando lá dentro.

E foi assim. Entrei meio que correndo no salão, mas é nessa hora que a câmera fica lenta, que a música some e você fica com cara de bobo. Lá estava ela. Vestido longo, amarelinho, e uma varinha de condão nas mãos, com estrelinha na ponta e tudo. Conversamos rapidamente, ela falou algo sobre o quase ex-namorado ter lhe dito coisas horríveis, que ele era um idiota e que estava triste e, aconteceu de novo.

Saímos dali e já dentro do carro ela me pediu, eu acho, que a levasse novamente para ver as estrelas e as luzes da cidade lá “nos eucaliptos”. Ficamos lá um bom tempo, esperando o dia nascer, mas ali o sol nascia às nossas costas, então não foi assim um grande espetáculo, mas o momento me parecia maravilhoso.

Já era dia, hora de ir para casa. Éramos adolescentes, tínhamos pais que esperavam por nós. Em frente à casa dela, eu a puxei para o meu colo, e não conseguindo conter aquela convulsão de sentimentos, uma grande erupção parecia querer brotar do meu peito em forma de palavras. Disse para ela: Posso te falar uma coisa, mesmo que isso não seja a verdade, e que não seja exatamente isso que esteja sentindo? Por que eu não sei o que to sentindo, afinal eu mal te conheço, mas eu quero dizer, sinto como se tivesse que dizer. Ela, meio sem graça, mas evidentemente feliz, consentiu.

Ajeitei-a melhor no meu colo, olhei em seus olhos e segurei suas mãos, respirei fundo e disse, todo sem jeito: Eu amo você!

Na hora ela riu divertida com a situação, mas não deu a importância devida àquilo que eu tava fazendo.

Coisas da juventude, eu sei. Mas naquele dia nem mesmo eu sabia que aquilo seria apenas um pequeno prefácio, de um livro com ainda muitos capítulos a serem escritos.

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