O ano era 1989, fim de tarde cinzento, próprio do outono de Pato Branco. Lembro de alguém dizendo: hoje vai ter show dos piá do Duelo ao Entardecer, vamos?! Eu devia ter uns 14 anos nessa época. Não sabia quem era a banda, mas gostei do nome. Dias mais tarde assisti pela primeira vez a banda Jardim Elétrico, antiga Duelo ao Entardecer, no La Petisquera, um bar que ficava na Av. Tupi, no melhor estilo porão claustrofóbico. Rock and roll e muita fumaça. Meses depois, numa festa na boatinha do Clube Pinheiros, lá estava aquela banda legal outra vez. O lugar estava lotado, não conseguia ver muita coisa, mas o som era incrível, as músicas eram ótimas e o baterista usava uma cartola muito louca.
Pato Branco tinha lá suas peculiaridades. Para uma cidade pequena no final dos anos 80, ate que apresentava uma cena rock bastante viva e a Jardim Elétrico era a melhor e maior representante dessa cena naquele momento. Eu estava começando a me envolver com música nessa época, aprendendo a tocar um instrumento, tinha amigos que tocavam em banda de rock e queria muito fazer parte daquilo. Foi por meio desses amigos e também freqüentando as noites patobranquenses que eu conheci os irmãos Koth, além do Leandro Nesello, que era o baixista da banda. Não éramos amigos, mas trocávamos algumas palavras vez ou outra. Eu acompanhava nos bastidores, como espectador e fã da trajetória da banda.
A Jardim Elétrico era sinônimo de rock and roll e boa música. Onde estivesse tocando a Jardim a festa era boa. Claro que havia outras bandas, mas a Jardim era a mais expressiva.
Lá na metade dos anos 90 os caras sumiram, se mandaram pra Curitiba pra estudar e seguir a vida. Tocaram por lá também durante um tempo e, sempre que voltavam a Pato, rolava alguma coisa legal. O bar do momento era o Frango e Fritas, palco de muitas noites de rock e boa música. Tinha também o farol 6imeia, um porão onde a Jardim ensaiava anos antes e que acabou virando um bar. Marcinho na guitarra, Julio na bateria e o Nesello no baixo. Quando não era em algum bar, rolava uns fins de tarde com rock feito na rua, tudo meio na base do improviso e feito no peito mesmo. O lance era não deixar a música parar.
A Jardim, além de levar no repertório os grandes clássicos do rock, sempre fez questão de mostrar suas músicas autorais. Heill Hippie, Lunático, Benedicto... músicas que se tornariam clássicos patobranquenses.
Lembro de um show que rolou no Teatro Naura Rigon. Era despedida do Julio. O cara estava indo pra Londres e resolveram fazer um show em alto estilo. O Mauro, grande guitarrista, irmão mais velho dos Koth e também o principal compositor das músicas da Jardim veio de Curitiba especialmente para o Show. O Duda Sartori era o baixista no momento, Julio no piano e teclados e o Marcinho na Guitarra e vocais. Esse show foi lindo e também marcante, pois a partir dai muitas mudanças viriam para a banda.
O tempo passou e eu vi outros novos músicos fazendo parte da formação da Jardim. O Pique entrou como baterista, o Lucas Messias na guitarra base. Mas a essência continuava a mesma.
Em 2001 eu estava no Frango e Fritas bebendo algumas cervejas quando chegaram Marcio e o Pique com um fardo de CD’s. Era a cria da Jardim que tinha tomado forma e ganhou vida. Janelas e Portas foi lançado na Expopato daquele ano e teve grande aceitação por parte dos fãs da banda. Músicas que embalaram toda uma geração estavam agora imortalizadas em formato digital.
Eu, que volta e meia subia no palco de metido para fazer um ou outro backing vocal pro Marcio, em 2003 recebi um convite para fazer um show somente com músicas dos Beatles, minha grande paixão. Eu tocaria baixo e faria segunda voz, Pique na bateria e Lucas Messias na guitarra base. O show aconteceu na Boate Age, e foi bem legal. Aproveitamos o embalo e fizemos uma meia dúzia de outros Shows com o repertório dos Beatles, terninho, gravata e coisa e tal. Eu fui ficando, ficando e fiquei. Meio sem querer querendo, virei baixista da Jardim Elétrico.
Nos anos que se seguiram fizemos muitos shows, embalamos muitas noites ao som do rock and Roll. Em 2008 o Julio voltou de Londres para Pato Branco, e prontamente assumiu os teclados dando novo fôlego para a banda. Tocamos um bom tempo nas noites da cidade e região, tentamos coisas novas, colocamos um par de Sopros para acompanhar um repertório todo voltado pro Soul e Blues, mas com a agenda bastante apertada, shows em quase todos os finais de semana, o lance da banda acabou deixando de ser um prazer e se tornou um compromisso, e isso foi frustrando a todos. Todos éramos adultos, com família e trabalho. Iniciava ai um período de pausa da Jardim Elétrico que durou bem uns oito anos. O Pique mudou para Curitiba e a banda parou. Fazíamos algumas apresentações esporádicas em formato acústico, só pela curtição da música e da companhia.
Agora, em 2019, novamente a banda se reúne e, completando 30 anos de boas relações com a música, volta à ativa com sede total pelo bom e velho roquenrou. Marcinho continua na guitarra e com sua voz cada vez mais afinada. Julico com seus teclados, pianos, guitarras e o potente vozeirão. Quem da conta das baquetas agora é nosso amigo Sidnei dos Anjos Jr, o Foca. Eu, com muita alegria ainda continuo fazendo os baixos e alguns vocais, vez ou outra errado, é fato.
Certo é que a Jardim Elétrico completa seus 30 anos de estrada e está aí, com o sangue quente nas veias para muitas mais noites e dias com o melhor som, com muita sede e com muita paixão pela música.
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