Eu acho que já tive um pouco de tudo da vida, mas sempre tive em mim uma
certa parcela de descontentamento que nunca me deixou sossegar, e por
outro lado me manteve sossegado até demais.
Já tem um tempo que eu venho cansado. Cansado dos dias, do tempo, das pessoas, de mim. Eu me olho no espelho e a pessoa que reflete nele não tem mais tanto a ver comigo. Minha casca tem envelhecido muito mais que eu mesmo e essa dissonância entre o eu de dentro e o eu de fora tem me incomodado bastante.
Já tem um tempo que eu venho cansado. Cansado dos dias, do tempo, das pessoas, de mim. Eu me olho no espelho e a pessoa que reflete nele não tem mais tanto a ver comigo. Minha casca tem envelhecido muito mais que eu mesmo e essa dissonância entre o eu de dentro e o eu de fora tem me incomodado bastante.
Tenho estado tão envolvido e conformado com a rotina de anos que o tempo deixou de ter significância e eu me deixo arrastar como um zumbi afônico, entre murmúrios que lamento, mas pouco faço pra achar a cura. Parece que o ar que eu respiro já não queima como deveria e o cérebro responde lentamente.
Apenas sinto que algo me falta e há tempos não consigo achar o sentido sobre as coisas que vivo, então apenas deixo os dias irem passando, um a um.
Perdi um pouco da fé nas pessoas, nos relacionamentos, nos amores. Talvez por saber, ou exatamente por saber que tudo só faz sentido quando compartilhado de maneira equilibrada e verdadeira, essa sensação de solidão não se desfaça tão facilmente.
Seria mesmo fácil se pudesse me servir de momentos insólitos, e conectado a uma tomada qualquer tivesse minha energia e determinação restauradas, meus planos e sonhos não se perdessem nesse véu embriagado, em passos trôpegos e luzes difusas. Mas, me vejo meio mecânico e apenas sigo encostando aqui e ali para um pouco mais desses combustíveis multifuncionais que me levam um pouco mais longe, mas nunca me deixam realmente completo.
Eu sei que tudo isso parece meio pragmático demais e que, se for olhar a fundo talvez nem seja assim tão real, mas esses sentimentos estão envolvidos num paradoxo que nem sempre tenho a sobriedade necessária para constatar.
Ainda espero, na verdade, que num dia ou numa noite qualquer, numa esquina qualquer, o que me falta em essência eu descubra num estalo, num som, num toque ou num beijo. O que eu desejo é que toda essa desilusão, que deveria ser passageira, se vá e não mais volte, dando espaço àquilo que me traga o riso solto e brilhoso, em dias que não mais precisarei de combustível algum para seguir em frente e apenas minha mão, segurando em outra mão tenha calor suficiente para aquecer dois corações.